quinta-feira, 8 de setembro de 2011

São Bernardo with LASERS



Faz algumas semanas (pra falar a verdade desde Junho), que venho tentando elaborar esse texto. Não é um tema fácil de tratar, pois ele envolve antes de tudo, balancear sua utilidade e o abuso dele, e até hoje eu não tinha nenhum exemplo pra usar, mas como nossa faculdade é um verdadeiro laboratório, ela me presenteou esses dias com a personificação de tudo que será tratado na coluna desta semana, e tudo isso começou porque estamos de SACO CHEIO!

Quando entrei na Direito São Bernardo, o controle de presença em sala de aula era bem simples, tinha uma lista, onde você assinava seu nome (e o dos coleguinhas), e no final da aula o professor a recolhia e ia embora. Quando o professor era muito “cri cri” ele fazia a chamada ele mesmo, seguindo a lista, mas isso raramente acontecia. E assim vivíamos todos felizes e contentes.

Foi meu primeiro ano, mas mesmo assim eu consigo sentir a diferença entre o nível de stress de hoje e o de 2007, pois ao assinar a lista, eu me concedia o pleno direito e vazar daquela aula se ela estivesse insuportável, bem como o faziam todos aqueles que permaneceriam na sala só pra ficar conversando, e assim nenhum professor precisava ver aluno dormindo, aluno bocejando, aluno contando o número de dobras do ar condicionado, etc, porque, afinal de contas, ficávamos na sala POR NOSSA ESCOLHA e não por falta dela.

Porém, em meados de junho/agosto de 2007 começaram rumores, de que um dispositivo antes conhecido por nós apenas para identificação no CFC, seria implementado na FDSBC. Foi um rebuliço dentro do CAXXA na época, e apenas hoje eu consigo entender o porque de tanto desespero, pois apenas quem viveu esse período de transição consegue observar que a chamada eletrônica nunca foi um dispositivo de mero controle presencial, que facilitaria o trabalho dos funcionários, mas sim um instrumento de controle dos discentes, e muitas vezes usado como instrumento de retaliação, no melhor estilo Vigiar e Punir, pegando emprestado do coitado do Foucault.

Me lembro que há uns dois anos atrás, quando ainda estava no CAXXA, um aluno me procurou desesperado pois um professor de segundo ano deu falta coletiva para a sala, pois ao tentar fazer chamada alguns alunos ficaram conversando e ele decidiu prejudicar a sala toda, e ameaçou a todos a continuar a fazer isso durante as próximas aulas. Eu mesma passei por isso no terceiro ano, quando o professor fazia chamada citando nossos nomes, super baixinho, e quem não respondia porque não conseguia ouvir, levava falta!

 Isso me dava e ainda dá uma tremenda vontade de gritar pelos corredores: MAS QUE POR... CARIA É ESSA????

Fora a maneira totalmente sem critério pela qual são dadas presenças e ausências, em algumas aulas eu assisto 5 minutos e ganho presença em duas aulas, em outras aulas o professor encerra a aula depois de meia hora e se eu chego atrasada fiquei com falta em duas aulas, sendo que uma delas nem foi dada!


A intenção da chamada eletrônica há muito deixou de ser controlar presenças e ausências, ela já se tornou (se é que um dia foi diferente) uma arma para punir os alunos, puní-los por não ficarem quietos, puni-los por não suportar ouvir groselha.

E quando eu acreditava que estava tudo perdido, eis que fui surpreendida novamente, por um levante coordenado pelos quintos anos nessa última semana, tentando instituir uma digna, justa e necessária Semana do Saco Cheio! Uma semana cujo objetivo não era ficar em casa coçando, mas sim termos tempo hábil, durante uma semana, para formatar a tranqueira da monografia, ler um livro, organizar o material pra semana de provas, estudar pra OAB, arrumar o quarto, dar banho no cachorro, fazer um bate e volta na praia, assistir novela, dormir cedo, ou qualquer coisa que nos fosse essencial para conseguirmos um último fôlego até o fim do semestre, que mal começou e já consumiu toda nossa energia!

Não defendo aqui que a faculdade institua uma semana do saco cheio, não acredito que essa coluna seja palco para deliberar sobre os prós e contras, mas fiquei muito indignada e revoltada, e por este motivo aderi ao movimento, quando descobri que os professores foram intimados a fazer chamada para coibir o movimento dos alunos! Ou seja, os professores que normalmente não fazem chamada foram compelidos (para não dizer obrigados) a dar ausência aos alunos, não por mera liberalidade, mas por algo imposto pela direção! Que vergonha!! Com tantas coisas importantes para serem discutidas na faculdade, é perdido tempo precioso se preocupando com alunos que decidiram faltar uma semana! Quanta energia desperdiçada bernardenses!

Penso que, uma saída estratégica e muito útil, seria dar também aos professores uma semana de saco cheio, para que corrijam provas, corrijam trabalhos, fiquem com os filhos, descansem, e depois de uma semana nos encontremos todos, com animo renovado e prontos para enfrentar o fim do bimestre. Mas não, tudo nessa faculdade parece ter de sempre ser levado ao extremo, e semana que vem voltaremos todos stressados, sem a menor necessidade.

Tenho um amigo que faz Medicina Santa Casa (USP), e passei na casa dele esta semana, que para eles é de saco cheio de verdade, e ele estava aproveitando o tempo dele para estudar pra prova de residência! Realmente, vejam como uma semana de saco cheio pode gerar catástrofe! ¬ ¬

Mas voltando à nossa amiga, convenhamos e sejamos francos, nem aqui e nem na China (ok, talvez na China) um controle desse surtiria os resultados que a direção alega que seriam produzidos! Principalmente porque a nossa chamada eletrônica há muito deixou de ser um controle, e se tornou uma arma! Uma arma que nos prende dentro de aulas fracas e desinteressantes, que veicula um nível de stress igualmente sentido por professores e alunos. Uma arma que nos obriga a ficar 50, 100 e até 150 minutos em uma aula, de corpo presente e mente ausente, pra não estourar de faltas!

Afinal, qual a necessidade de um controle tão absurdo? Vocês sabiam bernardenses, que é feito um controle de quais professores realizam mais chamadas? E que os campeões da presença coletiva normalmente são repreendidos? Pelo menos foi isso que um professor do quinto ano alegou quando lhe foi indagado o motivo dele sempre fazer chamada, mesmo que isso custasse a ele minutos preciosos da aula.

Que ninguém consiga fazer monografia decente porque a biblioteca não tem livros atualizados ninguém se preocupa, fazem cinco anos que eu escuto que o acervo da biblioteca vai ser atualizado e nada, mas tá todo mundo preocupado com quantas faltas eu acumulei durante o ano!

Sabe de uma coisa, eu quero ter o direito sim, de sair de uma aula que não está acrescentando nada na minha vida e ir estudar na sala de estudos, beber uma cerveja no Dinho´s, completar minha horas pátio, dormir mais cedo ou até mesmo entrar na aula de outro ano pra lembrar  de certas coisas, como por exemplo, de como eu era feliz e não sabia! E quero que o professor lá na frente veja, que o único motivo pelo qual a sala dele está lotada é porque ninguém mais pode receber falta sem arriscar uma reprovação por excesso de ausências, e não porque ele pensa que tá ensinando!

A verdade é que os professores que se garantem no conhecimento sabem que não precisam de chamada pra manter os alunos dentro da sala, eu duvido que se o Batalha e a Elizabeth parassem de fazer chamada em definitivo as aulas deles se esvaziariam! Pois a aula é interessante, é produtiva! O Professor Gago não faz chamada, e a sala está sempre cheia... agora, muitos professores ouviriam apenas o som do vento se deixassem de fazer chamada, pois esta é a única coisa que nos prende nessas aulas, a falta de escolha em assisti-las!

E aqui fica lançado o desafio, já que eu sei que essa coluna já chegou na sala dos professores! Aqueles que tiverem coragem, deixem de fazer chamada por um mês, de duas uma, se os alunos não sumirem da sala, fazendo transparecer que algo precisa ser mudado, ao menos eles estarão presentes por vontade própria, e aí quem sabe alguma coisa comece a mudar no nosso curso.

CHORA SÃO BERNARDO!


Essa coluna é em homenagem a todos os professores que se recusaram a acatar ordens sem o menor sentido! É de professores corajosos e alunos corajosos que a São Bernardo precisa!